Artigo de opinião que escrevi, publicado no Diário Económico de 2/06/2010
A actual crise económica portuguesa apresenta duas características que a tornam única na história recente do país. Por um lado afecta a sociedade de forma profundamente assimétrica, atingindo de forma violenta, através do desemprego e consequente perda de rendimento, os grupos sociais mais vulneráveis, nomeadamente mulheres e trabalhadores de baixas qualificações que ocupam postos de trabalho com contratos a termo. Por outro lado, esta crise coincide com uma transformação estrutural da economia portuguesa, na qual se destaca a progressiva diminuição do emprego nos sectores tradicionalmente intensivos em mão-de-obra não qualificada. Deste modo, se os tímidos sinais de recuperação do crescimento verificados no primeiro trimestre do ano contribuírem para algum aumento da procura de trabalho por parte das empresas, dificilmente o tipo de postos de trabalho oferecidos coincidirão com as características dos trabalhadores que actualmente mais dificuldades têm para reingressar no mercado laboral. Neste contexto, sem medidas adicionais em termos de política activa de emprego, não será de estranhar que o número de desempregados sem direito ao subsídio de desemprego aumente, pelo que poderemos estar na antecâmara de uma profunda crise social, agravada pelas recentes medidas de diminuição dos apoios sociais aos desempregados de longa duração.